Liu Arruda [Jornalista, Ator, Professor e Músico Brasileiro]
23/06/2012 11:14
Cuiabano, nasceu em 30 de maio de 1957, filho de Nilson Arruda e Tanita Marques de Pinho Arruda.Herdou da mãe o interesse pelo teatro e desde a década de 80 é o mais popular ator do Estado.
A primeira apresentação aconteceu em 1968, no Colégio São Gonçalo, onde fez uma dublagem de Balada para um Louco, uma versão de Moacir Franco para a música de Astor Piazzola. A partir daí mostrou que teatro não seria apenas uma brincadeira.
A primeira apresentação aconteceu em 1968, no Colégio São Gonçalo, onde fez uma dublagem de Balada para um Louco, uma versão de Moacir Franco para a música de Astor Piazzola. A partir daí mostrou que teatro não seria apenas uma brincadeira.
Nos anos 70, junto com Ivan Belém, participou do grupo de teatro do Sesi, "Pequenos Gigantes," atuando na peça "amilo Ramos Suing". Com Ivan Belém, o artista tomou conta da noite, com as poderosas "Creonice e Comadre Nhara". Uma união que emplacou de vez com a apresentação do espetáculo, "Elas por Eles".
O artista também trabalhou por 10 anos como professor no colégio Pernalonga, em Cuiabá, dando aulas de Educação Artística, Teatro e Redação. Foi ainda repórter da TV Centro América, filiada da Rede Globo na capital mato-grossense, por um curto período.
Liu Arruda era sistemático e extremamente profissional em todos os seus trabalhos. Como sofria de insônia, grande parte de seus projetos eram elaborados durante a madrugada. Bianca de Arruda, sobrinha do ator, relembra várias demonstrações da personalidade forte do tio, já que trabalhou com ele durante algum tempo.
"Ele sempre foi brincalhão, gostava de sacanear as pessoas, mas ao mesmo tempo era sério com as suas obrigações, gostava das coisas certas e de cumprir horários", enfatiza. O tino empresarial era muito marcante nas ações de Liu.
Era um homem visionário e sempre foi seu próprio patrão. Em meados dos anos 90 ele abriu o bar "Teatro de Varanda", que depois passou a se chamar "Nó de Cachorro"
O local era palco de espetáculos e a ideia era dar oportunidade aos artistas regionais a apresentarem suas peças à sociedade cuiabana, sem distinção de classe social. O objetivo era popularizar as manifestações culturais.
O ator fez muito sucesso quando foi garoto propaganda do antigo supermercado Trento Junior. Liu também participou das novelas O Campeão, da TV Bandeirantes e A Lenda, da extinta TV Manchete. Também fez uma breve participação na novela da TV Globo, Suave Veneno.
O humor de Liu valorizava o linguajar cuiabano, que era expresso numa mistura de irreverência com pureza, mas sem traço de vulgaridade.
Em mais de 25 anos de carreira, sua galeria tem quase 40 personagens e centenas de apresentações teatrais. Liu além de ter participado em novelas, manteve colunas em jornais e lançou o CD,"Ocê qué vê, escuta", com catorze faixas, sete músicas e sete piadas.
Liu Arruda morreu no dia 24 de outubro de 1999, com 42 anos.
Liu Arruda morreu no dia 24 de outubro de 1999, com 42 anos.
Após a sua morte, Liu Arruda recebeu várias homenagens pelo seu trabalho como artista mato-grossense, com destaque para a Sala Liu Arruda no Museu do Rio e o Espaço Cultural Liu Arruda do Tribunal de Contas de Mato Grosso, inaugurado em 2009, ambos locais em Cuiabá.
O artista também foi tema da exposição "Quarto de vestir" – Exposição dos figurinos de Liu Arruda, que teve a curadoria de Juliana Capilé em 2008. O evento reuniu figurinos e fotografias do ator, que ficaram expostos no Museu da Imagem e do Som (Misc), na Capital Matogrossense.
Na opinião da curadora, Liu foi um grande talento e contribuiu de forma intensa para o fomento da cultura no Estado. "Liu foi um grande ator, de uma capacidade cômica impressionante. Ele improvisava com muita rapidez e estava sempre atendo a qualquer movimento da platéia. Conseguiu uma projeção que poucos experimentaram por aqui",completa Capilé.
O eterno fã do humorista, o artista plástico Régis Gomes organizou uma exposição de telas na Secretaria Municipal da Cultura de Cuiabá, ou Clube Feminino. Contou com mais de 30 quadros, com os personagens mais queridos e engraçados de Liu Arruda.
Lançamento da Exposição do Liu Arruda:
Exposição de figurinos de Liu Arruda com performance de Ivan Belém. |
O artista se juntou ao Grupo Gambiarra em 1986, onde trabalhou com os atores mato-grossenses Claudete Jaudy, Ivan Belém, Mara Ferraz, Meire Pedroso, Roberto Vilas-Boas, Toty Martins, entre outros. O grupo encarava a rua como espaço cênico possível, realizando intervenções nas ruas, praças, bares e em movimentos de interesse popular, na tentativa de transformar o espaço cotidiano em espaço poético, em busca de contestação e perturbação coletivas. Por meio de espetáculos populares, o Gambiarra acreditava que tinha a função de ampliar o seu espaço de atuação, já que para os seus componentes, o teatro deve contribuir para a superação da marginalidade e não para a sua consolidação.
A parceria com Belém deu mais do que certo e a dupla dividiu o palco em diversas peças, como Nossa Gente, Nossos Valores, patrocinado pelo extinto Banco do Estado de Mato Grosso (Bemat), dirigido por Meire Pedroso com texto de Ivan Belém, Liu Arruda, Marilza Ribeiro, Maurício Leite e Meire Pedroso.
Cuiabá Digoreste também foi destaque da parceria entre os atores, que chegaram a ganhar dinheiro com os espetáculos.
O texto de Chico Amorim tratava com irreverência e bom humor o modo de falar cuiabano.
Para Ivan, a improvisação sempre foi uma das grandes qualidades do Liu, além da facilidade para memorizar textos..."ele era capaz de fazer piadas com o público e, ao mesmo tempo, contar o número de pessoas na platéia". Sobre o convívio entre eles, Belém conta que ele tinha momentos de muita irritação e mau humor, mas seu profissionalismo e senso de humor superavam qualquer coisa.
Em apresentação única no teatro da UFMT, Liu interpretou textos dos escritores regionais Manoel de Barros e Silva Freire e dos nacionais Fernando Pessoa, Manoel Bandeira, José Régio, Augusto dos Anjos e Astor Piazzola, além de compositores nacionais e internacionais. O espetáculo foi dirigido por Chico Amorim.
Junto de Chico Amorim, Liu focou seu trabalho na política. A peça Cidade Pedra Lascada marca o encontro com o diretor. Assim, dondocas e políticos passaram a ser matéria prima dessa parceria. Foi a partir daí que surgiu a personagem mais famosa de sua carreira: a "Comadre Nhara"
Dama da sociedade, Nhara era a típica cuiabana sem papas na língua e seu alvo eram os políticos do Estado e suas respectivas esposas. Junto a Chico Amorim, o ator deu vida a uma família imaginária onde, além de Nhara, participavam seu esposo Compadre Juca e os filhos Ramona e Gladstone.
Nhara e as demais personagens de Liu Arruda esbanjavam humor e senso crítico do linguajar cuiabano e comportamentos regionais.
Elas surgiram em uma época em que o fluxo migratório era intenso no Estado e esses novos moradores criticavam os hábitos e costumes da população matogrossense. Percebendo a situação, Liu resolveu dar vida a personagens populares, valorizando as características do seu povo, principalmente o sotaque e tentando fazer com que a população se orgulhasse das suas raízes.
As produções com Chico Amorim eram sempre rápidas, já que em algumas ocasiões 10 dias eram suficientes para a montagem de um espetáculo.
Primeiro eram escolhidos algumas personagens e os principais acontecimentos, depois eram montados os quadros. Amorim foi responsável por algumas mudanças na galeria de personagens do Liu.
Alguns dos personagens mais famosos de Liu Arruda:
Alguns dos personagens mais famosos de Liu Arruda:
Juca |
Juca retratava o homem cuiabano e Liu Arruda dizia ter se inspirado no próprio pai para compor o personagem
Ramona |
Ramona – louca varrida - Com uma peruca loira, Liu se travestia de Ramona, uma garota cuiabana que queria fazer tudo para estar na moda. Sua frase preferida era: Gente, o que aconteceu? What's this?
Gladstone |
Gladstone era um hippie hilário criado pelo artista.
Liu Arruda encenava textos que satirizavam a sociedade cuiabana, criticando os encaminhamentos sociais e políticos da cidade por meio das 40 personagens que interpretou. Certamente, foi o artista mato-grossense mais popular desde a década de 80. Sua irreverência, característica marcante do ator, fez com que ele fosse unanimidade em todas as classes durante o seu período de atuação como artista.
Liu Arruda Não Morreu
(Por: Ivan Belém)
Já se passaram dez anos da sua morte e Liu Arruda continua dando pano pra manga. Esse meu amigo foi um fenômeno. Gente como ele não nasce a qualquer hora, como chuchu na serra. Nem ator com esse carisma todo, capaz de arrebatar multidões. Foi amado, paparicado, do jeito que gostava. Mas também foi odiado. Para esses, nem tchum. Por mais que, em determinado momento, tenha se bandeado para um teatro mais comercial, não deixava de afrontar os corruptos, os maus cidadãos, fiel às suas origens de um tempo em que o teatro sentia-se comprometido com a construção de um mundo mais solidário e justo. Liu Arruda pertenceu a essa geração de atores militantes, que inúmeras vezes foram pras ruas defender uma causa, valendo-se do teatro. Tenho orgulho de pertencer a essa turma, da qual também fizeram parte Meire Pedroso, Mara Ferraz, Claudete Jaudy, Augusto Prócoro, Wagton Douglas e Vital Siqueira. Tivemos o privilégio de contar com autores e diretores do porte de Luiz Carlos Ribeiro e Chico Amorim. Ainda hoje Liu Arruda, um ícone dessa geração de atores, continua fazendo escola por aqui. E devemos muito desse milagre aos avanços tecnológicos. Jovens que não tiveram a oportunidade de vê-lo nos palcos ou na TV podem acessá-lo através dos conteúdos disponíveis na Internet. Algumas de suas personagens transformaram-se até em toques de celulares. Covers do mais popular ator mato-grossense povoam a cidade. Apesar disso não podemos, infelizmente, afirmar que Liu Arruda permanece vivo em um país célebre por ser desmemoriado. O que nos chega ao presente, seja por que meio for, é quase sempre uma imagem distorcida do ator, obscurecida pela caricatura. Liu Arruda foi muito mais. E Regis Gomes, um jovem e talentoso artista plástico, conseguiu captar isso muito bem. Durante meses fixou seu olhar sensível sobre o polêmico homem multimídia. O resultado foi dos melhores. Mais que revelar caras e bocas, Regis conseguiu captar a essência do homenageado, ou seja, características que ele tinha de melhor: a irreverência, o inconformismo e a rebeldia. E assim, por intermédio de Liu Arruda, Regis Gomes trouxe para o presente ingredientes vitais, que podem nos tirar da apatia, do egoísmo e, sobretudo, do silêncio sepulcral em que nos mergulhamos. Inexoravelmente.