"Cego por opção "
Talvez quando nasci ainda enxergava
Via tudo tal como era
sem preconceito, ideologia, nem máscara
Ai, aos poucos fui perdendo a visão
Não via mais a vida, mas sim televisão
As relações foram mudando
A mulher , negro, índio, fui inferiorizando
Mas ainda assim, enxergava, mesmo que pouco
Mas enxergava
Ainda via que algo não se encaixava
Poucos tem muito e eu aqui, sem nada
Enxergava tão pouco e só o que incomodava
Preferi fechar os olhos e não ver mais nada
Acostumei com a cegueira
Não vendo mais a miséria que passava
Assim fui vivendo até que um dia tropeçara
Em um mendigo na rua,
criança abandonada
Na exploração desenfreada
Com o susto abri os olhos
Mas vendo a miséria
Tentei permanecer como estava
Quando ainda não enxergava
Tarde demais
Já tinha visto muito
Mais do que presumo que podia tolerar
Vi-me diante de um novo mundo
Ao qual por décadas consegui ignorar
Um mundo de miséria, exploração,violência,
como pude não enxergar?
Talvez não tenha fechado os olhos
Mas o problema estava tão perto
Me encostando a face
que não pude enxergar
Até podia fechar os olhos
Seria um covarde
E o problema ainda estaria lá
Ao contrario da cômoda covardia
Resolvi lutar
Para que, mesmo que não mude essa paisagem
Pelo menos, uma nova consegui pintar
Jelder Pompeo de Cerqueira