"Cego por opção "

24/11/2012 10:35

 

Talvez quando nasci ainda enxergava

Via tudo tal como era

 sem preconceito, ideologia, nem máscara

 

Ai, aos poucos fui perdendo a visão

Não via mais a vida, mas sim televisão

As relações foram mudando

A mulher , negro, índio, fui inferiorizando

 

Mas ainda assim, enxergava, mesmo que pouco

Mas enxergava

Ainda via que algo não se encaixava

Poucos tem muito e eu aqui, sem nada

 

Enxergava tão pouco e só o que incomodava

Preferi fechar os olhos e não ver mais nada

 Acostumei com a cegueira

Não vendo mais a miséria que passava

 

Assim fui vivendo até que um dia tropeçara

Em um mendigo na rua,

criança abandonada

Na exploração desenfreada

 

Com o susto abri os olhos

Mas vendo a miséria

Tentei permanecer como estava

Quando ainda não enxergava

 

Tarde demais

Já tinha visto muito

Mais do que presumo que podia tolerar

 

Vi-me diante de um novo mundo

Ao qual por décadas consegui ignorar

Um mundo de miséria, exploração,violência,

 como pude não enxergar?

 

Talvez não tenha fechado os olhos

Mas o problema estava tão perto

Me encostando a face 

que não  pude enxergar

 

Até podia fechar os olhos

Seria um covarde

E o problema ainda estaria lá

 

Ao contrario da cômoda covardia

Resolvi lutar

Para que, mesmo que não mude essa paisagem

Pelo menos, uma nova consegui pintar

 

Jelder Pompeo de Cerqueira