"Cego por opção"

08/08/2012 14:39


Talvez quando nasci ainda enxergava
Via tudo tal como era
sem p

reconceito, ideologia, nem máscara

Ai, aos poucos fui perdendo a visão
Não via mais a vida, mas sim televisão
As relações foram mudando
A mulher , negro, índio, fui inferiorizando

Mas, ainda assim, enxergava, 
mesmo que pouco 
Mas enxergava
Ainda via que algo não se encaixava 
Poucos tem muito e eu aqui, sem nada

Enxergava tão pouco e só o que incomodava
Preferi fechar os olhos e não ver mais nada
Acostumei com a cegueira
Não vendo mais a miséria que passava

Assim fui vivendo até que um dia tropeçara
Em um mendigo na rua,
criança abandonada
Na exploração desenfreada

Com o susto abri os olhos
Mas vendo a miséria
Tentei permanecer como estava
Quando ainda não enxergava

Tarde demais
Já tinha visto muito
Mais do que presumo que podia tolerar

Vi-me diante de um novo mundo
Ao qual por décadas consegui ignorar
Um mundo de miséria, exploração,violência,
como pude não enxergar?

Talvez não tenha fechado os olhos
Mas o problema estava tão perto
Me encostando a face 
que não pude enxergar

Até podia fechar os olhos
Seria um covarde
E o problema ainda estaria lá

Ao contrario da cômoda covardia
Resolvi lutar
Para que, mesmo que não mude essa paisagem
Pelo menos, uma nova consegui pintar

Jelder Pompeo de Cerqueira